Graças à melhoria constante da utilização das soluções digitais, o Agronegócio brasileiro está se elevando a patamares cada vez mais altos no âmbito da produtividade.
Não é segredo para ninguém que a tecnologia vem contribuindo para a inovação de diversos setores da economia. E, com o Agronegócio, isso não é diferente. A comunicação e o acesso à informação, proporcionada pela internet, são a porta de entrada para diversas inovações também na Agricultura 4.0, que vem inovando e aprimorando todas as etapas do processo de produção com tecnologias de ponta totalmente integradas e conectadas.
Diante desse cenário, a Revista AgriMotor convidou Angela Gheller, diretora da Manufatura, Logística e Agroindústria da TOTVS – maior empresa de tecnologia do país no mercado SMB (do inglês “Small and Medium Business”, ou Pequenas e Médias Empresas) –, para falar sobre como o setor do Agronegócio brasileiro vem se comportando diante da tecnologia, e sobre as principais vantagens da adoção das soluções digitais. Confira, nestas páginas, os principais destaques dessa nossa conversa.
AgriMotor: Angela, como você avalia a evolução do Agronegócio no Brasil e o momento que vivemos hoje?
Angela Gheller: Nosso Agronegócio é realmente um setor que se desenvolveu muito ao longo das últimas décadas. Desde o início dos anos 1970 a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) vem realizando um trabalho fenomenal em toda a questão de solo no país todo, notadamente no que diz respeito à questão das plantas e sementes, bem como a todo um esforço e trabalho que foi feito na parte de plantio, de plantio direto, de rotação de culturas, de mecanização e de introdução de novas variedades agrícolas, todas essas ações, é claro, sustentadas pelo uso e pelos avanços da tecnologia. Tudo isso junto, fez com que o Brasil conquistasse o segundo lugar entre os maiores produtores de alimentos do planeta. Estamos falando de um universo de 5 milhões de estabelecimentos agrícolas, cuja produção de 23% dos quais são de responsabilidade da Agricultura Familiar. Contudo, de acordo com os dados mais recentes da própria Embrapa, divulgados em 2017, embora tenhamos crescido seis vezes em termos de produtividade, nossa área plantada apenas dobrou de tamanho. Hoje, ainda temos um percentual muito pequeno de áreas cultivadas no país, algo em torno de 7% em relação à extensão territorial do Brasil, o que demonstra que ainda temos muito que crescer por aqui.
Falando especificamente do uso da tecnologia no campo, como evoluiu e vem evoluindo a conectividade ao longo de todo esse tempo?
Registramos avanços impressionantes também. De acordo com uma pesquisa realizada recentemente pela Embrapa, em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), 84% dos agricultores brasileiros já utilizam ao menos uma tecnologia digital como ferramenta de apoio na produção agrícola, seja um drone, seja uma máquina que utiliza soluções de Internet das Coisas (IoT). Além disso, cerca de 40% dos produtores disseram que vêm usando essas novas tecnologias como canal para a compra e venda de insumos e da produção e, ainda, em torno de um terço deles utiliza soluções digitais com o objetivo de mapear a lavoura e a vegetação e para a previsão de riscos climáticos. Os dados dessa pesquisa são acachapantes: com o avanço da disponibilidade da internet no campo, os índices de conectividade saltaram de 75.000 estabelecimentos rurais conectados em 2006, para 1.430.000 em 2017, um percentual que corresponde a 29% de todos os estabelecimentos que têm conectividade hoje no Brasil. E esse número e cifra seguramente cresceram bastante nestes últimos três anos. Acerca disso também, uma pesquisa da McKinsey & Company, empresa de consultoria empresarial americana, reconhecida como a líder mundial nesse mercado, realizada antes da pandemia, já dava conta que 36% dos agricultores brasileiros já vinham utilizando muitas soluções online – como o WhatsApp, por exemplo, entre outros aplicativos da internet –, enquanto apenas 24% deles faziam isso nos Estados Unidos. E, obre esse aspecto em particular, é muito importante ressaltar, é claro, a atuação fundamental das agritechs para consolidar esses níveis de avanço da conectividade no campo entre nós.
E vocês perceberam algum retrocesso na velocidade de incorporação de tais ferramentas, pelo menos entre os pequenos produtores, em função da COVID-19?
Não, pelo contrário. E esse é um dado bastante interessante: observamos um crescimento fantástico do uso das ferramentas de Transformação Digital no campo, não só da parte das médias e grandes empresas, que já vinham demandando soluções disruptivas em sua atuação, como também dos pequenos produtores, que já estão bem digitalizados, em níveis semelhantes àqueles observados entre os de maior porte. E ao contrário do que acontece na manufatura, segmento no qual a gente, às vezes, precisa fazer “mágica” para o cliente comprar as soluções da TOTVS, por exemplo, a aceitação e a demanda dessas ferramentas pelos operadores do Agro vêm sendo cada vez maiores: eles sempre nos pedem mais.
Como a TOTVS vem respondendo a esse acréscimo de demanda?
Como maior empresa de tecnologia do Brasil, oferecemos ao Agronegócio brasileiro uma plataforma que conecta os dados de diversos fornecedores e os integra ao sistema de gestão, facilitando a análise e controle de todos os processos. Essa é a proposta, por exemplo, da nossa nova solução TOTVS Agro Conecta Dados, que se propõe resolver a integração dos equipamentos e os sistemas de diversos fornecedores. Por meio de inteligência aplicada, ela permite centralizar as informações dos equipamentos e softwares utilizados no campo, com o objetivo de garantir maior eficiência e desempenho nas operações, otimizando a gestão do negócio.
Como isso se dá, exatamente?
Imagine o seguinte: uma única máquina agrícola pode gerar aproximadamente 1,5 milhões de registros por meio de seus sensores. Uma única plataforma processa, sintetiza e distribui esses dados dentro do sistema de gestão. Com o novo TOTVS Agro Conecta Dados, a comunicação é feita por meio de nossos APIs, ou seja, de nossas instruções e padrões de programação para acesso a aplicativos e/ou softwares. E, na medida em que nos conectamos com mais parceiros, a plataforma se torna cada vez mais abrangente, pois os dados são trabalhados de forma consistente e estruturada. A plataforma vem ganhando integração com diversos fabricantes de máquinas e de automação, permitindo coletar os dados de sensores e de sistemas agronômicos e meteorológicos, gerando resultados exponenciais ao produtor. E o mais interessante é que a solução pode ser contratada por assinatura e o valor da subscrição varia de acordo com o número de equipamentos conectados. Quanto maior o volume de máquinas, menor o valor individual da conexão.
E como você avalia o atual estágio da Agricultura 4.0 no Brasil? “Integração” é a palavra-chave?
Sem dúvida. As aplicações da Agricultura 4.0 têm melhor aproveitamento quando há integrações entre equipamentos e plataformas de gestão, pois apenas assim o produtor passa a ter controle e acesso aos dados de forma consistente. Com a nova solução da TOTVS, é possível extrair os dados das máquinas e dos equipamentos agrícolas e conectá-los ao sistema de gestão. Ou seja, as informações processadas pelos tratores, colheitadeiras, drones e sensores passam a ser geridas automaticamente pelo ERP, como por exemplo dados de talhões, ordens de serviços, horas trabalhadas, alertas de equipamentos e dados de colheita. Essa integração garante a integridade na coleta das informações para planejamento das fazendas e, com a gestão dos dados, é possível ter um controle mais preciso dos custos da produção e análises preditivas que colaboram para o melhor gerenciamento das operações de campo. São informações que permitem, por exemplo, a aplicação variável de agrotóxico para controle de pragas, colocando em prática o conceito de Agricultura de Precisão com o uso racional de insumos. Além disso, é possível acessar de forma simples análises de produtividade e eficiência das máquinas e dos operadores, uma oportunidade de otimizar ativos e operações de manejo como pulverização, preparo, plantio e colheita.
Pegando um outro viés, que também é uma especialidade de sua atuação na TOTVS, embora o Agronegócio brasileiro venha performando uma dinâmica que nem mesmo a pandemia do novo coronavírus conseguiu arrefecer, por outro lado, ainda continuamos a conviver com enormes desafios que comprometem a nossa produtividade, tais como os recorrentes problemas ligados às deficiências de infraestrutura, em especial, à logística de transporte. Como melhorar esse cenário?
Bem, investir em infraestrutura é inescapável. Porém, mais do que estradas, precisamos investir em multimodais de transporte. O uso de trens e barcos faria uma enorme diferença no escoamento dos eficientes e sem desperdício dos silos, o que ainda é um problema recorrente. Outro ponto que julgo importante é a digitalização da logística, o que, felizmente, já é uma realidade, com cada vez mais empresas que atuam no setor se profissionalizando e investindo em sistemas de gestão, dando foco à questão do negócio. E um dos resultados positivos disso é o barateamento e a democratização da tecnologia, o que nos permite ter um novo olhar digital da atuação dessas empresas. No âmbito do Agro, vejo toda essa movimentação com bons olhos, porque, além de este ser um setor muito aberto à tecnologia, ele tem muita disposição para recorrer a elas para resolver qualquer problema que tiver, seja por meio da contratação de uma empresa já integrada a essa nova maneira de pensar a logística, seja por meio da contratação de uma startup. Felizmente, estamos cada vez mais nos movimentando nesse sentido.