Voos cada vez mais altos: Cresce o uso de drones no Agronegócio Brasileiro

Redação Agrimotor

Redação Agrimotor

Estes novos instrumentos já estão perfeitamente adaptados a agricultura de precisão e se constituem em eficientes ferramentas para aumento da produtividade.

Marcus Frediani

Cada dia mais, a inteligência artificial vem se transformando em forte aliada para uma produção sustentável, mais rápida e lucrativa nos mais diversos setores e segmentos de atividade. Nesse cenário, surgiu a agricultura de precisão, cujas tecnologias inovadoras conseguem entregar resultados mais expressivos de cultivo e colheita, utilizando a mesma quantidade de terra.

E um dos maiores trunfos do reface digital vem sendo proporcionado pela utilização de drones – incluídos na categoria dos VANTs (Veículos Aéreos Não Tripulados) –, ferramentas que oferecem a possibilidade de fazer uma vistoria das plantações, baseada em imagens de altíssima qualidade e dados captados por múltiplos sensores, que, quando analisados por softwares, proporcionam um diagnóstico completo da lavoura. Com certeza uma tendência em expansão no agronegócio brasileiro, a utilização de drones está em constante crescimento, trazendo vários benefícios para a atividade no campo, visando a otimizar processos e aumentar a produtividade – que pode passar facilmente de 15%, já a partir das primeiras utilizações, segundo média obtida entre empresas fornecedoras e agricultores –, substituindo cada vez mais a necessidade das ações in loco, nem sempre precisas e seguras.

Assim como as aeronaves convencionais, existem diferentes tipos de drones também, divididos em duas categorias distintas: os multi-rotor e os de asa fixa. Os primeiros são os mais famosos, e utilizam o mesmo princípio de voo dos helicópteros, por meio de asas móveis chamadas de rotores, propelidas a elevadas rotações por minuto, possibilitando o voo. Utilizados em operações realizadas em áreas localizadas, esses VANTs funcionam com baterias, têm autonomia que pode chegar a 50 minutos, e, dependendo do modelo, conseguem cobrir áreas de seis a 12 hectares. Por terem a capacidade de permanecer estáticos no ar, são ótimos para tirar fotos de pontos fixos da lavoura, com o uso de câmeras simples ou especiais.

Os dois tipos de drones utilizados na agricultura: multi-rotor (esq.) e asa fixa.

Por sua vez, os VANTs do tipo asa fixa são parecidos com aviões, equipados com uma asa em delta que cria a sustentação para o voo, e um motor tipo hélice na parte traseira, que pode ser tanto elétrico quanto de combustão, utilizado somente para impulsioná-los para frente. Muito eficientes, com autonomia consideravelmente superior na comparação com os drones de multi-rotor, alguns modelos de drones asa fixa podem permanecer em operação até incríveis 16 horas, o que lhes permite cobrir grandes distâncias sobre áreas amplas, monitorando diversos pontos de interesse na plantação. (NE: Para entender melhor as diferenças entre ambos os modelos e conhecer as vantagens que cada um possui, confira o quadro comparativo abaixo).

BENEFÍCIOS EM SÉRIE
Em termos de utilização dos drones na agricultura, se talvez não seja exato dizer que as possibilidades derivam para o infinito, elas, literalmente, vem se ampliando dia a dia. A primeira delas, sem dúvida, advém do sensoriamento remoto da superfície monitorada, que permite a coleta de informações de uma determinada parte do solo cultivado, por meio de sensores e instrumentos de alta performance, que realizam a leitura há mais de 150 metros de altitude, sem que haja a necessidade de contato direto com a área, o que facilita enormemente a vida do agricultor e de sua equipe, principalmente em terrenos acidentados e de difícil acesso. A partir da análise desses dados é possível demarcar os lugares de plantio e acompanhar o crescimento da plantação, evitando que ultrapasse os limites estipulados, bem como determinar quais são as melhores áreas para cada tipo de cultura.

Integrados à proposta da agricultura de precisão, após o plantio, os drones são também a melhor ferramenta para acompanhar o desenvolvimento e a saúde da lavoura, uma vez que, por meio de sensores como os de infravermelho, essas pequenas aeronaves conseguem não só executar a contagem de plantas, como também monitorar cada uma delas, substituindo com amplas vantagens a coleta de dados aleatória, normalmente realizada por amostragem por alguns funcionários da área rural.

Contagem de gado: uma das utilidades dos drones na pecuária.

Quando analisadas por algoritmos modernos, as imagens captadas pelos drones permitem determinar, com precisão de centímetros, a quantidade de plantas existentes em uma determinada região, e detectar falhas de semeadura e áreas de menor densidade, o paralelismo (distanciamento entre as linhas de plantio), para detectar o amassamento de plantas, bem como de seu vigor vegetativo e eventuais deficiências de nutrição, a fim de otimizar a produtividade. “Além disso, o uso de drones no campo proporciona a detecção e a rápida correção de alguns problemas recorrentes na lavoura, como é o caso do estresse hídrico e a existência de pragas e doenças na plantação”, pontua Elton Brandão, gerente de Vendas para Agricultura da Super Importadora, uma das empresas pioneiras no mercado de drones no Brasil, instalada em São José dos Campos/SP.

Drone multi-rotor em operação.

Com efeito, gerir o sistema de irrigação de uma plantação é uma tarefa árdua e que os produtores enfrentam diversos problemas, principalmente em plantações extensas. Isso porque, quando as plantas atingem certas alturas ou portes, as inspeções nos bocais de irrigação e mangueiras de distribuição tornam-se extremamente difíceis. Já com o uso dos drones, o acesso ao sistema é muito mais fácil. “E além de detectar com exatidão as pragas, os VANTs, notadamente os do tipo multi-rotor, também podem ser utilizados, com grande eficiência, para a aplicação pontual, em locais exatos, de defensivos agrícolas – além, é claro, da aplicação e pulverização de fertilizantes – para solução dos problemas ou cultivo da plantação”, complementa Brandão, explicando que a capacidade de carga desses insumos, dependendo do tipo de drone, pode variar de 25kg (a mais usual) a 150kg.

AMPLIANDO O FOCO
Na agricultura tradicional, o pragueiro detecta um problema de pragas na lavoura, a partir de uma amostragem muito baixa da plantação total. E, ao identificar doenças ou infestações, é dado início ao processo de pulverização do local, seja por avião, trator ou costal. “Atualmente, drones e softwares de monitoramento são capazes de fazer muito mais, identificando infestações a partir de fotos capturadas pelas aeronaves. E, com auxílio de inteligência artificial, é possível localizar com precisão o foco do problema, garantindo que o meio ambiente receba muito menos produto e o agricultor tenha os custos com os defensivos reduzido”, comenta a respeito Eduardo Goerl, CEO da ARPAC, startup especializada em serviços agrícolas por meio de drones, de Piracicaba/SP.

Isso tudo, sem falar na questão da detecção de incêndios, cuja aproximação é tarefa extremamente perigosa e difícil pelos métodos convencionais. “Por isso os drones têm se tornado um grande aliado no combate ao fogo, uma vez que os VANTs conseguem sobrevoar a plantação com grande proximidade do incêndio, mesmo com péssimas condições de visibilidade em função da fumaça, auxiliando no seu combate e evitando que eles se alastrem pelo restante da plantação”, explica Fabio Grubert, Drone IA Enable/Gerente de Projetos da PIX Force, startup brasileira de Porto Alegre/RS, que desenvolve soluções utilizando tecnologias de visão computacional, inteligência artificial e machine learning. “E, como benefício adicional, eles também têm uso na pecuária, não só para operações como a contagem do gado, como também, obviamente, dar suporte à lavoura que garante a sustentabilidade da atividade, como é o caso da soja, do milho e do sorgo, utilizados para alimentar os animais”, complementa.

INVESTIMENTO E ROI
Nos últimos anos, a queda no preço dos drones, bem como a flexibilização dos regulamentos em torno de seu uso, tornaram essa tecnologia a mais competitiva em relação a outras alternativas mais tradicionais, como o uso de aviões e satélites de sensoriamento remoto. E com algumas vantagens econômicas e técnicas bastante eloquentes em relação a elas, que permitem ao produtor conhecer sua área de forma precisa e com riquíssimo detalhamento a partir de um monitoramento que pode ser feito diariamente – e com muita economia –, a fim de que ele possa planejar corretamente o uso dos recursos e acompanhar a evolução da plantação.

Com grande autonomia, drones de asa fixa podem permanecer 16 horas no ar.

Elton Brandão, da Super Importadora, dá um exemplo bem prático: “Sem falar obviamente dos satélites militares, o melhor satélite agrícola trabalha com uma resolução espacial de imagem de um metro ou, no máximo, meio metro. Já um drone pode oferecer uma resolução de imagem a partir de três centímetros, o que permite ver a folha da planta e até um inseto ou uma praga minúscula que a esteja atacando, com um preço infinitamente menor”, explica.

Só que as perguntas recorrentes feitas pelos produtores rurais ainda não familiarizados com a tecnologia é: Os drones são equipamentos? E qual o tempo de retorno do investimento? “Bem, hoje temos drones com diversas faixas de valores. Estes variam muito conforme a necessidade de uso de quem os compra, e do tipo de equipamento neles embarcadas, como, por exemplo, câmeras simples, ou câmeras especiais, como térmicas ou multiespectrais. Assim, podemos citar VANTs de entrada a partir de R$ 12 mil, que podem chegar a R$ 80 mil, sendo que alguns drones de pulverização podem custar mais de R$ 150 mil. Por sua vez, os drones de asa também podem chegar a valores bem elevados: os mais baratos partem de R$ 50 mil, podendo chegar aos R$ 200 mil, dependendo da tecnologia embarcada. Isso, é claro sem falar dos custos com acessórios e itens de manutenção, como baterias, hubs de carregamento, hélices, asas e motores. E esses itens não são baratos, pois tanto os drones quanto os acessórios são cotados em dólar”, abre o jogo Sergio Orsolin, presidente da Visiomap – Startup Agtech, empresa de alta tecnologia em mapeamento aéreo digital e consultoria de produtividade, com sede em Ribeirão Preto/SP.

Contudo, ele e os outros vendedores do produto enaltecem o fato de que essa tecnologia tem apresentado resultados altamente satisfatórios para a agricultura de precisão, e se tornando um grande diferencial de plantações que têm o foco em automação, proporcionando um rápido ROI (Return On Investiment), que pode até ser alcançado, garantem eles, em apenas uma colheita, devido ao fato de que grandes perdas são evitadas graças ao plano de ação incorporado.

“Pensando na fotografia aérea, por exemplo, com o valor cobrado por um dia inteiro de imageamento feito a partir de drones, seria possível se obter aproximadamente apenas uma hora do serviço caso fosse usado um avião. E como existem poucas opções de aluguel desse tipo de equipamento – o que incide no investimento em treinamento do operador, ou na contratação de um piloto qualificado e certificado –, a compra é a melhor alternativa”, defende Fabio Grubert, da PIX Force. “Já na comparação com um satélite agrícola, cujo uso custa, em média, R$ 5.000 por quilômetro quadrado, a diferença é ainda mais gritante”, faz questão de registrar, por sua vez, Elton Brandão, da Super Importadora.

Redação Agrimotor

Redação Agrimotor

Há mais de 15 anos a revista Agrimotor apresenta os assuntos mais recentes do setor do Agronegócio nacional.
Abrir chat
precisa de ajuda?
Olá como posso te ajudar?