30/05/2021 | Ed_Antes, Edição AR109

Confiança em alta, mas com atenção redobrada

Redação Agrimotor

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O agronegócio foi um dos setores menos impactados pela pandemia da COVID-19 e, por isso, a confiança na lucratividade é maior do que em outras áreas da economia brasileira. Mas ainda há grandes desafios para perpetuá-la.

Inegavelmente, a pandemia da COVID-19 tem gerado impactos no cenário do agronegócio brasileiro e mundial. No período, foi possível observar um descolamento no otimismo dos produtores agropecuários e das indústrias. O real desvalorizado e a alta das commodities agrícolas no mercado externo, em que pese o fato de terem favorecido as exportações, impulsionaram os preços ao produtor agropecuário no mercado interno, principalmente em função da redução da renda da população, o que, naturalmente, afetou a demanda. Simultaneamente, a falta de chuvas no período de plantio de importantes culturas como, milho, soja e feijão, teve impactos ao prejudicar parcialmente essas lavouras.

A boa notícia, entretanto, é que, segundo o mais recente relatório do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA), divulgado no dia 13 de maio, a tendência de mais um recorde de safra não foi alterada. O Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP) deste ano deve ser 12,1% superior em termos reais em relação ao de 2020, com base nos dados de abril. O valor estimado é de R$ 1,076 trilhão, enquanto o de 2020 fechou em R$ 960,2 bilhões. Nesse cenário, as lavouras continuam liderando o indicador, sendo previsto faturamento de R$ 741,2 bilhões e a pecuária, R$ 335,1 bilhões. O crescimento do valor delas é de 16%, enquanto o da pecuária é de 4,4%.

Na prática, a maior parte dos produtos analisados pelo Ministério apresentou viés de alta. “Olhando a série de dados nos últimos 32 anos, verifica-se que este ano representa recorde para as seguintes atividades: algodão, com crescimento de 3,7% do VBP; arroz, 4,8%; banana, 2,4%; cacau, 8,3%; cana-de-açúcar, 1,3%; milho, 22,7%; soja, 31,3%; e trigo, 25,4%. Enquanto isso, na pecuária, os melhores resultados vêm do segmento de carne bovina, com crescimento previsto em 10,3%, e da carne de frango, com alta de 2,2%. Os campeões de faturamento em valores absolutos são soja, carne bovina, milho e cana de açúcar. Esse pequeno grupo contribui com 34% do VBP”, analisa José Garcia Gasques, coordenador da pesquisa e de Avaliação de Políticas e Informação do MAPA.

CONFIANÇA RESTAURADA
Como resultado dessa dinâmica – somada ao incremento das exportações de commodities, funcionando como forte impulsionador de receitas para os produtores brasileiros em função da valorização do dólar frente ao real, especialmente durante a pandemia –, não só no país, como também no mercado global, o fenômeno da retomada da confiança no agro vem se manifestando de maneira bastante evidente. É o que aponta a recente divulgação da 24ª edição da Pesquisa Global com CEOs da PwC (24th Annual Global CEO Survey), com análise focada no setor. De acordo com a pesquisa, a perspectiva no longo prazo, para 77% dos respondentes, é bem mais sólida do que a média brasileira das demais indústrias (67%), já que foi um dos que menos sofreu impacto com a pandemia da COVID-19. O índice de confiança na lucratividade do segmento para 2021 também é maior que a média nacional, sendo 53% ante 49%, respectivamente.

Entre outras coisas bastante interessantes, o levantamento mostra que quase 50% dos respondentes informaram que a empresa ampliou o quadro de trabalhadores nos últimos 12 meses, enquanto, nos demais setores, o acréscimo foi de apenas 31%. Além disso, 63% dos CEOs do agronegócio têm expectativa de realizar mais contratações no próximo ano, número similar aos demais empresários (62%). O estudo da PwC ainda aponta que o foco na automação (40%), na qualificação e na reputação como empregador ético e socialmente responsável (33%) são as principais estratégias do agronegócio para a força de trabalho a fim de aumentar a competitividade da organização.

GESTÃO DE RISCOS
Ainda de acordo com a CEO Survey, as ameaças que têm mais peso na agenda de gestão de riscos do agronegócio (além da pandemia) estão relacionadas à volatilidade cambial (67%), mudanças de comportamento do consumidor (60%), aumento das obrigações tributárias (57%) e mudanças climáticas (47%). O estudo também aponta que mais de 50% dos líderes do setor consideram os mercados da China e dos Estados Unidos como os mais importantes para o crescimento dos seus negócios. Ainda de acordo com a pesquisa, quase 50% dos líderes do agronegócio têm maior foco em reportar os impactos ambientais, pois está entre as áreas-chave e de valor para as companhias. Na média nacional, as prioridades para o bom funcionamento dos negócios, segundo os CEOs do agronegócio, estão relacionadas à educação e a adaptabilidade da força de trabalho (67%), à saúde e o bem-estar da força de trabalho (57%), a um sistema tributário efetivo (37%) e à infraestrutura (37%).

Em relação ao impacto da pandemia no gerenciamento de riscos, os líderes de agribusiness vão aumentar o foco na reavaliação de tolerância ao risco (66%) e na digitalização da função de gestão de risco (56%) – assim como a média nacional. De acordo com quase 50% dos respondentes da pesquisa da PwC, a COVID-19 está impulsionando investimentos de longo prazo no agronegócio, em especial nas áreas de transformação digital, cibersegurança e privacidade de dados.

E, como os demais setores, o agronegócio espera que as mudanças no regime tributário tenham maior impacto na estrutura de custo (87%) e nas decisões de planejamento e nas obrigações tributárias (73%). Com efeito, o agronegócio e a média nacional percebem as mesmas ameaças ao seu crescimento. Contudo, as ameaças preocupam uma parcela maior dos líderes de agro, sendo as três principais: incerteza da política tributária (73%); aumento da obrigação tributária (67%); incerteza política (63%). Assim como na média nacional, os CEOs do agronegócio acreditam que um sistema tributário efetivo (77%), emprego (43%), educação (40%) e infraestrutura (37%) deveriam ser as prioridades do governo.

ESG NO AGRONEGÓCIO
Seja como for, fato é que o agronegócio brasileiro continua chamando a atenção no panorama global. O país é um dos principais players do setor no mundo e lidera a produção e exportação de diversas commodities agropecuárias. Até 2030, a produção agrícola brasileira deve crescer mais de 20%, segundo a pesquisa Projeções do Agronegócio, do MAPA.

Contudo, esse protagonismo evidente traz, naturalmente, uma carga extra de responsabilidade para os produtores nacionais. E um dos principais – senão, “O” principal – na leitura da PwC Brasil, é a necessidade urgente de as empresas locais adotarem estratégias consistentes e modelos de negócios alinhados às melhores práticas de Environmental, Social and Corporate Governance (ESG – em bom português, Práticas Ambientais, Sociais e de Governança Corporativa), a fim de criar diferenciais de mercado e criação das bases de crescimento e perpetuidade ante aos futuros desafios.

Assim, entre outras coisas, é fundamental que a atuação dessas organizações passe a concentrar atenção especial e foco em temas relevantes e estratégicos litados a tais práticas, a fim de que elas possam responder de maneira cada vez mais ágil às aspirações dos mercados interno e externo, bem como à crescente demanda dos stakeholders por informações claras e seguras sobre seu desempenho e sua forma de conduzir os negócios. Nesse sentido, uma pesquisa realizada pela PwC Brasil, no final do ano passado, revelou que 47% dos players do agronegócio respondentes afirmaram que é tão importante ter acesso a informações ESG quanto a informações financeiras da empresa. Assim, torna-se cristalino que quanto mais cedo a empresa se preparar para enfrentar esse desafio, maiores serão suas chances de sucesso.

TENDÊNCIAS E ENTRAVES
No elenco de prioridades dessa dinâmica, esse levantamento também mostra a necessidade de atendimento a uma série tendências essenciais para o setor, já consolidadas em 2021 ou ainda em fase de consolidação. Entre elas, as mudanças dos hábitos de consumo; o foco na inovação, na digitalização e na força de trabalho; maior visibilidade e transparência na cadeia de valor; e o estabelecimento de melhores parcerias com os fornecedores em face à volatidade e às incertezas do mercado.

Entretanto, o que gera preocupação e vem na contramão desse entendimento, é que outro estudo, também realizado em 2020 com diferentes stakeholders do setor, só que desta vez pela Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) – a pesquisa “Agronegócio: desafios à competitividade do setor no Brasil” –  identificou que o tema da governança e gestão, um dos pilares do ESG, foi apontado como o segundo principal gargalo do setor de agronegócio no Brasil, atrás somente de infraestrutura. Complementarmente, a questão ambiental também precisa ser vista com atenção. Segundo a Pesquisa Anual Global de CEOs 2021 da PwC, 47% dos líderes brasileiros do agronegócio acreditam que suas empresas precisam fazer mais para divulgar seu impacto ambiental, ante 39% do resultado global. Conclusão: ainda há muita lição de casa para fazer nesse aspecto.

Redação Agrimotor

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Há mais de 15 anos a revista Agrimotor apresenta os assuntos mais recentes do setor do Agronegócio nacional.
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