Transformando luz em bons negócios para o agro

Redação Agrimotor

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Sol e energia: uma combinação perfeita de produtividade, que tem tudo a ver com o futuro do agronegócio brasileiro.

O Brasil acaba de entrar para um seleto “Top 10” de utilização de energias alternativas. Segundo mapeamento da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR), a partir de dados da International Energy Agency Photovoltaic Power Systems Programme (IEA PVPS), o país alcançou a 9ª posição no ranking mundial de potência adicionada anual da fonte solar fotovoltaica em 2020. No total, foram instalados 3.152,9 megawatts (MW) da fonte solar fotovoltaica, incluindo 2.535,3 MW (80 %) em sistemas de geração distribuída e 617,6 MW (20 %) em sistemas de geração centralizada.

Embora a contribuição do agronegócio negócio ainda seja pequena entre as classes de consumo dessa matriz energética (7%, também de acordo com a ABSOLAR), a perspectiva de ampliação dessa cifra no médio e longo prazos é bastante promissora, seguindo o ritmo de desenvolvimento do próprio setor, que necessita de eletricidade para realizar boa parte de suas atividades. E quem assina embaixo é a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), ao afirmar que a geração de energia nas propriedades rurais contribuirá fortemente para o desenvolvimento sustentável no campo e para a diversificação da matriz energética por meio das fontes renováveis vinculadas ao agronegócio. Por conta disso, os investimentos dos agricultores e pecuaristas nesse setor na tecnologia já ultrapassaram a marca de R$ 1,2 bilhão desde 2012, sendo que os maiores produtores são, pela ordem, Minas Gerais, com 19,9%, Rio Grande do Sul e São Paulo, com 12,5% cada.

O poder inesgotável dos fotovolts
Para o público do campo, economia na conta de eletricidade é o benefício mais evidente que tem validado a opção por essa matriz energética ecossustentável, uma vez que sua geração parte de uma fonte limpa e renovável, diminuindo os impactos negativos ao meio ambiente. Essa equação, aliás, ganha em rentabilidade quando se fala de sistemas de conversão da luz direta do sol em eletricidade, por meio do chamado efeito fotovoltaico. A célula fotovoltaica, um dispositivo fabricado com material semicondutor, é a unidade fundamental desse processo de conversão, e um conjunto delas, integrado à formatação “on-grid” que permite inserir a energia gerada diretamente na rede elétrica, transferindo o excesso de energia gerada para a distribuidora, proporcionando, em muitos casos, economia de até 95% da conta de luz.

Porém, essas são apenas algumas das múltiplas vantagens que a instalação de painéis solares nas propriedades pode trazer a partir dos investimentos em novas tecnologias para aumentar sua produtividade e sua competitividade. Por exemplo, gerar a própria energia é uma ótima alternativa para não sofrer com as instabilidades que ocorrem nas zonas rurais, deixando os produtores menos dependentes do fornecimento das redes de energia convencionais. Além disso, a durabilidade desses sistemas de geração demanda baixa manutenção e têm vida útil média de 25 anos. Outra vantagem, ainda, é a possibilidade de financiamento do sistema em longo prazo e com juros baixos. Isso, sem falar que muitas vezes o produtor consegue um bom período de carência antes de começar a pagar o financiamento – em geral, até que o projeto esteja totalmente funcional –, sendo que o valor da parcela, não raro, é menor do que aquele que ele paga normalmente em sua conta de energia.

Já em termos de aplicações práticas no campo, o uso da energia solar no agronegócio apresenta uma ampla série de benefícios e possibilidades. Uma delas é no bombeamento de água, por meio da substituição das bombas movidas a diesel por equipamentos que utilizam a energia solar como matriz. Na irrigação, os sistemas convencionais podem ser automatizados a partir dela, com a vantagem de proporcionar ainda o efetivo controle do fluxo de água na operação de molhagem das plantações, minimizando o consumo e reduzindo problemas.

“Indo para a pecuária, no segmento de produção leiteira, é possível maximizar esse processo e proteger todo o insumo de forma eficiente, pois o uso de módulos solares nessa atividade permite que o leite seja conservado da melhor maneira nas câmaras de resfriamento, diminuindo prejuízos com perdas de itens e otimizando o tratamento com os animais. Como boa parte das fazendas utilizam cerca elétrica para o manejo do gado, que tem um baixo custo, porém com o uso da energia solar é possível economizar ainda mais no processo. E na avicultura, com o uso da matriz solar, granjas e espaços para criação de frangos para corte conseguem diminuir os gastos com eletricidade e, assim, aumentar os resultados do setor”, lista Rodrigo Sauaia, CEO da ABSOLAR.

Aquecendo os negócios do agro
Paralelamente ao avanço do uso da tecnologia fotovoltaica, que converte diretamente os raios solares em eletricidade, tem-se observado também que existe um espaço muito grande no Brasil para o crescimento do uso de energia solar térmica, cujos sistemas usam o calor do sol diretamente para aquecer outro meio, geralmente água.

De acordo com a pesquisa anual de Produção e Vendas de Sistemas de Aquecimento Solar 2021, o volume de produção de coletores solares térmicos somou 1,42 milhões de m², com aumento de 7,3% no ano de 2020 na comparação com o ano de 2019. Entre as vantagens da modalidade figuram a instalação fácil e rápida dos aquecedores, a possibilidade de se utilizar o gás natural, de baixo impacto ambiental, e que, nessa mesma linha, pode utilizar como combustível para queima alguns subprodutos que são eventualmente descartados na produção agrícola, tais como o bagaço da cana-de-açúcar e as cascas de cereais.

Com relação à distribuição das vendas nos segmentos de mercado da energia solar térmica, é possível observar, que o setor mais significativo é o residencial (70%), seguido pelo comercial (16%), projetos sociais (6%), industrial (5%) e serviços (3%). “Contudo, o que nem todo mundo sabe é que no agronegócio existem vários exemplos de utilização dela, como é o caso do setor de produção de leite. Esse produto normalmente é colocado em tambores para o envio para a indústria de beneficiamento. E a limpeza desses tambores utiliza muito a água quente. Em função disso, muitos produtores utilizam o aquecimento solar de água para reduzir de forma significativa os custos com energia elétrica”, destaca Oscar de Mattos, presidente da Associação Brasileira de Energia Solar Térmica (ABRASOL).

Outra utilização dos sistemas térmicos solares – cuja pesquisa vem avançando fortemente na Europa, podendo chegar rapidamente também ao Brasil, graças a uma parceira acadêmica entre a Universidade de Aveiro, em Portugal, e a Universidade Federal do Ceará – é a aplicação dessa tecnologia como fonte de energia principal para o controle do ambiente interno de estufas agrícolas de alta eficiência, por meio do uso de coletores solares térmicos de baixa temperatura para o aquecimento de água, que serve como acumulador de calor e de meio de transporte da energia para o interior dessas estruturas capazes de criar um ambiente mais protegido para o cultivo e desenvolvimento de diversas plantas. O objetivo básico é reduzir o percentual de utilização de combustíveis fósseis necessários para manter o ambiente da estufa dentro dos parâmetros requeridos por cada tipo de cultura, com economia para o agricultor e elevado grau de eficiência, proporcionando, a um só tempo, aumento da produtividade e redução das emissões de carbono e do risco para os trabalhadores do campo.

Marco legal e esforço de padronização
Embora tenha avançado nos últimos anos, o Brasil – detentor de um dos melhores recursos solares do planeta – continua atrasado no uso da geração própria de energia. Dos mais de 86,3 milhões de consumidores de energia elétrica do País, menos de 0,7% já faz uso do sol para produzir eletricidade, limpa, renovável e competitiva.

Para a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR), a aprovação do marco legal da modalidade será o melhor caminho para evitar retrocessos e democratizar a geração própria no País. O marco legal está pronto para votação na Câmara dos Deputados, por meio do Projeto de Lei (PL) nº 5.829/2019, de autoria do deputado federal Silas Câmara e relatoria do deputado federal Lafayette de Andrada. No total, 38 instituições representativas do País apoiam o projeto, que garantirá em lei o direito aos brasileiros de gerar e consumir sua própria eletricidade por meio de fontes limpas e renováveis, incluindo de produtores rurais, entre as quais a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

“A energia solar terá função cada vez mais estratégica para o atingimento das metas de desenvolvimento econômico e ambiental do País, sobretudo neste momento, para ajudar na recuperação da economia após a pandemia, já que se trata da fonte renovável que mais gera empregos no mundo”, aponta o CEO da ABSOLAR, Rodrigo Sauaia.

Com objetivo semelhante, no último dia 8 de abril, a Associação Brasileira de Energia Solar Térmica (ABRASOL) lançou o RENASO 01, uma Recomendação Normativa para projeto, fornecimento e instalação de sistema de aquecimento solar para instalações de grande porte. “O RENASOL é um trabalho elaborado pelos agentes que atuam nesse mercado – entre os quais fabricantes, projetistas e instaladores que nasceu na ABRASOL, e está sendo replicado para todo o país. Percebemos que com o incremento da utilização do aquecedor solar de água em prédios em São Paulo, fez-se necessário estabelecer critérios de dimensionamento e instalações. Daí nasceu a ideia de se ter uma padronização de requisitos e padrões mínimos de segurança e de qualidade na parte de projeto, instalação e manutenção dos aquecedores solares, que estão reunidos na RENASOL 01”, explica o presidente da entidade, Oscar de Mattos.

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Há mais de 15 anos a revista Agrimotor apresenta os assuntos mais recentes do setor do Agronegócio nacional.
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